RESPOSTA DA RIQUEZA TAXONÔMICA E FUNCIONAL DA MACROFAUNA BENTÔNICA AO USO E COBERTURA DA TERRA NOS RESERVATÓRIOS BRASILEIROS DURANTE A SECA EXTREMA

Resumo

Introdução: Os reservatórios são ecossistemas aquáticos artificiais criados por represas de rios, e são influenciados por diferentes tipos de impactos. O uso e ocupação do solo antrópico são uma das principais causas da perda de qualidade ambiental e diversidade biológica nos ecossistemas aquáticos. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do uso e ocupação do solo sobre a riqueza taxonômica e funcional dos macroinvertebrados bentônicos em reservatórios na região semiárida brasileira durante um período de seca extrema. Material e métodos: O estudo foi realizado em seis reservatórios localizados na região semiárida do Nordeste brasileiro (estados da Paraíba e Rio Grande do Norte): Sabugí, Passagem das Traíras, Cruzeta, Cordeiro, Sumé e Poções. As coletas de macrofauna bentônica, variáveis físicas e químicas da água e o mapeamento do uso e ocupação do solo foram realizadas para os anos de 2014 e 2019, em junho e setembro. O período amostral foi caracterizado como a seca mais severa dos últimos 50 anos nesta área de estudo. O uso e ocupação do solo foram verificados através do método de classificação semi-supervisionada das imagens capturadas pelo satélite Landsat 8, dentro de 100 metros da margem do reservatório. A diversidade da macrofauna bentônica foi analisada através da riqueza taxonômica e da riqueza funcional, de acordo com cinco características funcionais: grupos tróficos de alimentação, modo de respiração, voltinismo, tamanho corporal e proteção corporal. Para verificar diferenças significativas nas variáveis físicas e químicas da água e na riqueza taxonômica e funcional entre as categorias de uso e cobertura do solo, realizamos o teste PERMANOVA. Resultados e Discussão: Sete categorias de uso e cobertura do solo foram encontradas nos reservatórios estudados nos anos de 2014 e 2019, são elas: água, agricultura, pastagem, solo exposto, ocupação humana, vegetação aberta (espécies nativas e exóticas de tamanho pequeno/médio com espaçamento contínuo) e vegetação arbórea/arbustiva (espécies nativas e exóticas de tamanho médio/grande com estrato herbáceo associado e predominância de dorso semi-contínuo). Em todos os reservatórios, o uso prevalecente foi o pasto. As variáveis físicas e químicas da água variaram significativamente entre os tipos de uso e cobertura do solo, foram fosfato reativo solúvel (p=0,02), fósforo total (p=0,002) e volume de água (p=0,01). As maiores concentrações de fósforo total foram associadas à ocupação humana predominante e o fosfato reativo solúvel à agricultura. A maior porcentagem do volume de água foi associada com o uso predominante de vegetação arbórea e arbustiva. Em reservatórios de regiões semi-áridas com baixa conectividade devido a rios intermitentes e períodos de seca extrema, as atividades antrópicas adjacentes como agricultura, pastagem e ocupação humana são as principais fontes externas de nutrientes. A riqueza taxonômica e funcional da macrofauna bentônica era maior em áreas de vegetação aberta, porém, não variava significativamente entre as categorias de uso e cobertura do solo. Conclusões: Nossos resultados mostram que os efeitos do uso e ocupação antrópica em reservatórios associados à escassez de água levam à homogeneização da comunidade macrobentônica, o que pode gerar consequências negativas nos processos sustentados pela comunidade.